8 de março de 2008

Pequenas porções de diversão

Aqueles que me conhecem de perto sabem que eu não sou assim tão normal quanto aparento, até porque de perto ninguém é normal mesmo. Entre minhas idiossincrasias, pode-se apontar o fato de ser do tipo “baiana de todos os santos”: no dia 02 de fevereiro, jogo flores para Iemanjá; no dia 19 de abril, faço a louvação a Santo Expedito; no dia 13 de junho, acendo uma vela para Santo Antônio; na última sexta-feira do ano, vou ao Bonfim, e por aí vai.

Que eu saiba os santos não têm programa de fidelidade nem exigem regime de dedicação exclusiva. Dessa forma, posso dizer que minha devoção tem como princípio a lógica tribalista do “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo, e todo mundo me quer bem”. E acho que eles me querem bem de verdade, pois não tenho do que me queixar. Até quando as coisas não saem como o esperado, se os contratempos forem vistos com o filtro do humor, ainda assim é possível extrair boas histórias para contar e depois se divertir com elas.

Foi por isso que comecei a escrever e a transformar alguns episódios da minha vida em crônicas. Uma vez iniciado esse processo, acredito que isso mudou a percepção de minha existência: esta se tornou mais significativa na medida em que passei a considerar algumas experiências como dignas de registro.

Se sempre tive claro o porquê de escrever tais histórias (porque estava a fim, porque isso me dava prazer), o mesmo não acontecia quando me perguntava para quem e para quê. Em princípio, tudo parecia muito bem resolvido: meu público alvo seria eu mesma (inclusive, no futuro) e, muito provavelmente, os amigos que vivenciaram comigo os casos por mim narrados.

Para quê? Num primeiro momento, para que a leitura coletiva, normalmente realizada após a redação dos textos, se transformasse em evento e pretexto para reunir a galera; para que as recordações de fatos engraçados e insólitos pudessem ser facilmente recuperadas nos arquivos da memória; e, sobretudo, para que esses relatos fossem uma fonte de boas risadas. Considerando que rir faz bem para pele, retarda o aparecimento de rugas e previne contra doenças cardíacas, só isso já seria mais do que uma razão suficiente.

Quando escrevo, costumo me projetar no futuro e me imagino velhinha, dando gargalhadas (muito provavelmente, bem menos estrondosas do que as de hoje), sozinha ou com meus companheiros de aventuras (e desventuras), tão velhinhos quanto eu, lembrando do que aprontamos na juventude e de outros casos engraçados que ouvi por aí. Esse, com certeza, é um excelente motivo e, sem dúvida, um ótimo remédio antimonotonia, indicado como medida preventiva para evitar a depressão senil.

Meus amigos, primeiros leitores das minhas crônicas, também foram os primeiros a me incentivar a fazer alguma coisa com elas. Diante desses estímulos, quando pensava na possibilidade de tornar públicos os textos que escrevia, vinham novamente as questões básicas da comunicação: para quem e para quê. Como jornalista, sei que um dos principais (na verdade, deveria ser o principal) critérios de noticiabilidade é o interesse público, além do igualmente importante (na visão comercial, é o que acaba pesando mais) interesse do público. E continuava me perguntando: “Será que outras pessoas distantes do meu convívio teriam interesse em ler esses meus relatos? A troco de quê?”.

Agora, pensando melhor, diria que talvez elas pudessem ter como recompensa alguma diversão, o que me parece uma contrapartida bem razoável. Então, caros leitores desse meu despretensioso blog, é isso que vocês podem encontrar por essas postagens (Não é assim que se diz nos blogs. Êta, bastaria um “a”, num vacilo de digitação, e teria escrito “pastagens”. Sim, e daí? Soaria estranho, mas algum maluco certamente atribuiria algum sentido. Qual? Deus sabe. Outro detalhe, sem a menor relevância, é que essa é a forma aportuguesada. Fala-se, normalmente, em “post”, que, em inglês, pode significar um monte de coisas, inclusive poste). Fechado esse enorme e despropositado parêntese, devo dizer que esse será, portanto, meu principal tema e, de certa forma, o que me impulsionou a produzir esse blog: compartilhar, com os leitores e passantes de olho dessas páginas eletrônicas, algumas “pequenas porções de diversão”, como é anunciado no nome que dei a ele. Por falar nisso, também é bom dizer que se trata de quase um plágio das “pequenas porções de ilusão” da música “Maior abandonado” de Cazuza. Desejo que, como no refrão criado pelo meu ídolo, minhas (tanto no sentido de que “eu vivi” como no de que “ouvi de alguém e resolvi contar”) histórias sinceras (que estão longe de ser mentira) lhes interessem, lhes interessem...

Aviso logo que aqui vocês não vão encontrar reflexões profundas sobre a natureza humana (ou sobre qualquer outro tema); muito menos, algo que desafie a erudição. Se é isso que procuram, melhor usar a ferramenta de busca e ir atrás de outro blog para ler. Meu único compromisso será o de retratar, prin-ci-pal-men-te, com todas as sílabas e letras, os momentos de pura falta de compromisso, fora o de ser feliz, que a vida nos reserva se soubermos aproveitá-la. Aliás, também é bom deixar claro que nesse espaço não terei compromissos com absolutamente nada, mesmo porque já os tenho em excesso no meu dia a dia. O que isso quer dizer exatamente? Quer dizer que: passarei dias sem dar o menor sinal de escrita; que postarei (verbo postar no futuro do presente do modo indicativo. É curioso esse vocabulário da “blogosfera”, termo que os comunicólogos gostam de usar) textos que escrevi num passado recente (quando fizer isso, é provável que faça uma breve contextualização do momento em que foi escrito); que postarei (ói ele aqui de novo, o tal do verbinho) textos longos, mesmo sabendo que eles são totalmente inadequados na Internet, principalmente quando se usa o blog como suporte (quando fizer isso, é provável, que seja obrigada a usar o método do “esquartejamento”, melhor dizendo ― já que “esquartejamento” é feio ―, o método do fracionamento, quando as porções de diversão forem, digamos assim, bem servidas).

Sobre esse último recém-fechado parêntese, abrirei mais um, sem contar esse aqui (se acostumem com a confusão mental, porque sou chegada num parêntese, isto é, nuns parênteses, afinal há o que abre e o outro que fecha): lembram daquela música de Marina da abertura de “Roda de Fogo” (quem não lembrar da novela, tudo bem, eu tinha dez anos quando ela foi ao ar na Globo, mas a música acho que devem conhecer, pois ainda toca, pelo menos de caju em caju, em algumas emissoras de rádio)? “Pra começar, quem vai colar, os tais caquinhos...” Pois é, os tais caquinhos dos meus nem tão velhos textos, vocês mesmos terão de colar (mas a fragmentação é sintoma da pós-modernidade, esse momento que dizem que vivemos agora. Então, é provável ― já escrevi essa palavra, tanto na forma de adjetivo como de advérbio, mais de cinco vezes, mas não se trata de pobreza de repertório lexical, a questão é que tudo é especulação minha, portanto, a repetição se faz necessária ­­― que vocês nem encarem como um problema). Já viram que sou a rainha das idéias intercaladas. Se o pensamento é assim, a escrita tem de dar um jeito de acompanhá-lo. Quem quiser que me siga.

Gente jovem, por espírito ou data de nascimento, deve obter algum prazer na leitura dos textos que serão aqui publicados (ainda dá para usar esse verbo mais tradicional, mesmo no contexto dos blogs, não é mesmo?). Para isso, eu espero poder contar com as visitas de vocês (“não me deixem só, tenho desejos maiores”), até para ter mais um alento para escrever, além, é claro, da benção de todos os santos.

P.S. (leia-se “Para os Santos”): Senhor do Bonfim, eu sei que Gil já pediu, mas faça também esse favor para mim, chama o pessoal e manda descer a galera toda. Santo Expedito, relaxe aí, que não é assim tão urgente, mas, se puder dar uma forcinha, eu agradeço. Santo Antônio, nesse caso, o senhor está liberado; nem perca seu tempo tentando conseguir apreciadores para esse meu blog, se concentre na sua tarefa de me arranjar um marido bom (no sentido do caráter e no outro também), bonito (ou bonitinho, pelo menos) e que me faça feliz (Santo Expedito, se quiser se coligar com seu colega, fique à vontade!). Odoya, minha mãe, não esqueça de que um dia a senhora mandou o pai de santo me dizer: “o melhor está por vir”. Se ainda vem mais, que venha!























4 comentários:

Fernanda disse...

Com certeza isto aqui será puro SUCESSO!
Garanto que já tem uma leitora cativa (já adiconei a pagina aos "favoritos")! ;)
Beijos e boa sorte.

Cris disse...

Obrigada, Fernanda!!!!! Beijos

Anônimo disse...

Serra, já tinha feito uma visita rápida a esse seu novo cantinho, mas somente hoje tive tempo de ler tudo com mais calma. Li novamente os textos que já conhecia e, pela primeira vez, os novos. Todos eles me proporcionaram "grandes porções de diversão". Esse espaço está a sua cara! Estou certa de que os seus escritos ainda vão proporcionar a muita gente a alegria que me trazem a cada leitura. É impossível ler, mesmo os já conhecidos, sem rir sozinha. Estou me divertindo e esperando o tempo passar aqui na badaladíssima Maracás.
Te desejo toda a sorte do mundo e que o seu talento, já conhecido e admirado pelos amigos, ganhe notoriedade por esse imenso mundo virtual.

Beijos,

Fernanda

Cris disse...

Blã (Fernanda), esse seu comentário me proporcionou uma porção bem grandona de emoção. Muito lindo o que você escreveu para mim. Obrigada por isso e por tudo!!! Beijão, Serra